¿Porque vivemos a falar do paraíso -ou dos paraísos- como o melhor lugar para estarmos mas na hora em que isso
pode ser possível simplesmente sabotamos essa possibilidade e fugimos às presas
para o lado contrário?... ¿Porque dizemos estar a procura da felicidade e temos
tanto medo a conquistá-la, a faze-la realidade em nossas vidas?... Parece coisa
de doido porém é o que acontece com a maioria das pessoas.
Essa tendência nefasta acontece
com maior intensidade em certas populações que, em diversos pontos do planeta,
foram constituindo uma massa energética negativa que, com o tempo, vai se
reciclando e piorando, ficando cada vez mais difícil para as pessoas escapar
desse karma. Argentina, Russia, os países balcãs (Bósnia, Croácia, Sérvia,
etc), países muçulmanos como Iraque, Irão, Afeganistão ou Paquistão ou
africanos como o Chade, Uganda ou Serra Leoa, são algumas delas.
Porém resulta
curioso que esse insensato drible à felicidade seja registrado em países como
Brasil, onde até pouco tempo era tão celebrado morar e viver: moro, num país tropical,
abençoado por Deus e bonito por natureza... que beleza... cantava Jorge Ben Jor
e todos os brasileiros cantavam junto a ele.
Os mais de 9.000 pacientes
atendidos durante 45 anos pelo psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate
configuram uma experiência que lhe permite afirmar, sem sombra de dúvidas, que
todo mundo teme a felicidade e costuma sabotá-la. E ele fala mesmo de brasileiros.
Em entrevista ao sítio UOL, o psiquiatra esmiúça os mecanismos do medo, que
paralisa as conquistas, e fala como é possível modificar o modo de agir. As
seguintes são suas definições:
Nascimento. Todo mundo teme a
felicidade porque esse medo tem relação com o que nos aconteceu no ato de
nascer, pelo qual todos passamos: estávamos em harmonia no útero, uma espécie
de "paraíso", e dali fomos expulsos na hora do parto. Assim, nascer é
uma transição para pior, pois passamos a estar expostos a dores, sensações de
desamparo. Parece que se forma um tipo de condicionamento: sempre que estamos
próximos de um estado de harmonia e felicidade, tememos o risco de uma nova
ruptura, agora a da morte ou da perda de pessoas amadas.
Risco de perda. Parece que o
risco de tragédia aumenta quando estamos próximos da felicidade, o que não é
fato, mas é como sentimos. Aliás, todo pensamento supersticioso tem a ver com
isso: quando estamos bem, batemos na madeira para afastar os maus fluidos.
Assim, o medo da felicidade é, de fato, o medo de perder a felicidade e o que
temos de melhor, como se esse risco aumentasse à medida que nos aproximamos da
harmonia.
Ansiedade. Podemos ter medo de
mudanças, mas isso não está relacionado apenas com o medo da felicidade.
Abandonar hábitos antigos quase sempre implica a perda de um padrão de
comportamento que também nos traz algum alívio para a ansiedade ou depressão.
Mesmo os mais inesperados, como automutilação, parecem ter a ver com a redução
da ansiedade. Quem rói as unhas, por exemplo, sabe muito bem que esse ato
funciona como ansiolítico. Não somos comodistas por natureza, mas temos medo do
sofrimento e nos afastamos dos hábitos, compulsões e vícios que tanto nos
confortam quando as perdas passam a ser maiores do que os ganhos. Talvez
sejamos "matemáticos" por natureza.
Autossabotagem. Sabotamos a nós
mesmos quando chegamos perto de atingir nossos desejos. Um bom exemplo é o do
emagrecimento: quando o regime alimentar é bem-sucedido e a pessoa está
chegando à silhueta desejada, surge uma tendência forte para que ela relaxe e
volte a comer demais, recuperando o peso perdido. A autossabotagem faz parte do
medo do sucesso, que é uma das versões do mesmo medo da felicidade. Quando as
coisas vão bem, sentimos medo em vez de gratidão.
Felicidade perigosa. Não vamos
ficando com mais medo ao longo da vida. Ficamos mais próximos da felicidade que
sonhamos e, aí, temos a sensação que ela atrai uma tragédia iminente. Temos a
impressão de que o avião cai com mais facilidade quando vamos fazer a viagem
dos sonhos do que quando estamos indo para um evento triste: um funeral, por
exemplo. E isso não é verdadeiro. Porém, é como sentimos em função do reflexo
condicionado que se estabeleceu a partir do "trauma do nascimento",
expressão que é o título de um livro do psicanalista austríaco Otto Rank
(1884-1939).
Fobias. O medo é parte dos
processos instintivos relacionados com a autopreservação, com os cuidados que
devemos ter para nos defendermos de perigos reais. No passado, animais
perigosos; no presente, ser atropelado, por exemplo. Acontece que, pela via dos
reflexos condicionados e em decorrência de determinadas vivências traumáticas,
desenvolvemos medos de situações que não são tão perigosas, como é o caso do
avião. Chamamos isso de "fobias": medo daquilo que não deveria, em
condições normais, nos assustar. Medo de leão é medo justo; medo de barata é
fobia. Nosso psiquismo é extraordinário e nos ajuda em muitos aspectos, porém,
pode nos perturbar.
Resiliência. O medo de errar é
muito ruim porque acovarda a pessoa e a impede de experimentar o que é novo. O
risco de erro está presente em todo experimento, mas ele corresponde ao mesmo
caminho que nos leva a acertar, a avançar e progredir. Aprendemos com os erros
e com os acertos. Quem não arrisca, fica estagnado. A boa tolerância a
frustrações e contrariedades, a chamada boa resiliência, é condição fundamental
para o crescimento pessoal, profissional, sentimental e moral de todos nós.
Autores do crime. Colocar a culpa
nos outros é um processo de projeção: atribuímos a outra pessoa uma parte da
nossa própria subjetividade. Temos, dentro de nós, forças construtivas e
destrutivas. Essas últimas se ativam mais quando estamos muito felizes. É fato,
também, que a felicidade pode incomodar a um bom número de pessoas que, por
comparação, se sentirão por baixo, revoltadas com a hostilidade sutil típica da
inveja. Porém, penso que os atos destrutivos que costumamos praticar são da
nossa própria autoria e existiriam da mesma forma se não houvesse a inveja. E
como ela coexiste com nossos bons momentos, podemos, facilmente, atribuir a ela
um processo que nos pertence.
Mudança. Para mudar hábitos e a
si mesmo é preciso foco, disciplina e boa tolerância aos fracassos. Muitas
pessoas não têm essa tolerância. Para elas, mudar é ainda mais difícil. É
preciso se empenhar e conhecer o melhor possível a si mesmo, seus sentimentos e
emoções, mesmo os nobres, e como funciona sua mente. Convém que saibamos quais
os nossos pontos fracos e quais são nossos dons maiores.
Firmeza e paciência. Depois de
tudo, saber muito bem o que se quer mudar, para onde mudar. Aí, se faz um
plano, um projeto e, o mais importante: temos que tratar de executá-lo. As
mudanças só acontecem quando abandonamos a teoria e partimos para a ação.
Ninguém se cura do medo de avião em um consultório; nele se conversa sobre
porque ele surgiu e como enfrentá-lo. Mas a pessoa terá que entrar no avião,
sofrer os medos correspondentes e, aos poucos, ir se livrando desse tipo de
condicionamento psíquico nocivo. Tudo tem que acontecer aos poucos, com firmeza
e paciência, porque esses processos podem durar mais do que gostaríamos. É
muito raro que uma pessoa consiga mudar de um dia para o outro.
Quem muda? Quase todo mundo é
capaz de mudar. Existem algumas pessoas por demais intolerantes a sofrimento e
dor que não conseguem nem se imaginar em situações em que terão de enfrentar
adversidades. Essas não mudam.
Ajuda. A intensidade do medo é,
segundo acredito, um atributo inato, variável de pessoa para pessoa. Os pais
têm que ajudar as crianças a desenvolver a coragem, ou seja, a força racional
necessária para que os medos irracionais sejam enfrentados. Isso se consegue em
parte pelo exemplo e, em parte, estimulando as crianças a vivenciarem
dificuldades, dores, adversidades inerentes à nossa condição. Nada de
superprotegê-las, pois isso as enfraquece. Todos têm de aprender a lidar com
docilidade com as contrariedades e frustrações próprias da vida. Isso é mais
fácil para os que já nascem mais condescendentes e mais difícil para os mais
revoltados. Porém, todos têm de chegar lá, pois a vida não irá poupar uma
pessoa apenas porque ela blasfema e grita quando contrariada.q
______________________________________________________________________________
Que achou você desse post? Clique abaixo, no link COMENTÁRIOS e deixe sua palavra...
|| MAIS INFORMAÇÃO