Os passos que nos levam à transição

sábado, 26 de novembro de 2016


Reykjavik, a capital da Islândia é a cidade grande mais sustentável do mundo. 
O Movimento Cidades em Transição, que busca retirar o petróleo da vida urbana e promover economias municipais, acredita que não existe um modelo único de transição, nem que tenha encontrado todas as respostas para resolver o problema da escassez do petróleo e do aquecimento global.

As iniciativas de transição são um exemplo do princípio de se pensar globalmente e agir localmente. Através do fortalecimento da comunidade e do redesenho de espaços, ações, interações e relações, essas iniciativas criam um processo promissor que engaja pessoas, comunidades e  instituições para, juntas, pensarem e implementarem as ações necessárias  – de curto, médio e longo prazo – para fazer frente aos desafios atuais como: as mudanças climáticas, o pico do petróleo, a crise econômica, entre outros.
A idéia é que cada sociedade use a criatividade para fazer a mudança.Para as grandes cidades, a alternativa de fazer a transição pelos bairros, reforçando o comércio regional, tem bons resultados. Por exemplo, Bristol, no sudoeste da Inglaterra apostou nessa perspectiva. Com mais de 400 mil habitantes, a cidade foi "dividida" em 12 partes. Cada uma delas está procurando achar sua própria solução.
Rob Hopkins, iniciador e teórico do movimento, acredita que cada experiência vai servir de inspiração para novas ações e iniciativas.
Não existe um calendário coletivo para a conclusão dessa transição entre a economia do petróleo global e a economia sustentável local. Cada cidade tem o seu. Totnes, no Sul da Inglaterra, considerada o berço do movimento, espera concluir sua jornada em 2030. Na linha do tempo traçada pelo movimento, quando a tarefa for concluída muito dos hábitos e costumes da cidade terão sido modificados. As pessoas deverão consumir produtos locais e a dieta será baseada muito mais em vegetais do que na carne.
Também as escolas passarão a preparar as crianças para as reais demandas da época: cozinhar, construir casas a partir de materiais naturais como adobe e barro e a fazer jardinagem. Os conceitos de sustentabilidade e resiliência, que é a capacidade que um sistema possui de resistir a choques externos, passarão definitivamente a fazer parte do currículo. O transporte público ganha espaço e andar de carro será sinônimo de comportamento anti-social.
Para orientar cidades interessadas em aderir ao movimento, Rob Hopkins, organizou Os 12 passos para a transição. Eles estão no seu livro The Transition Hand Book (Livro de Bolso da Transição, em uma tradução livre). Os 12 passos são:

1. ... Formar grupos na sociedade para discutir possíveis ações para diminuir o consumo de energia na sociedade. Temas como importação de alimentos, energia, educação, moeda local, urbanismo e transporte. É importante que o sucesso coletivo seja colocado acima dos interesses pessoais. Deve haver um representante para cada grupo.

2. ... Identificar possíveis alianças e construir networks. Preparar a sociedade em geral para falar das conseqüências do fim da era do petróleo barato e sobre aquecimento global. Palestras com especialistas e mostras de filmes como The End of Suburbia, Crude Awakening, Power of Community têm sido muito eficientes. Esses filmes se encontram para download no website www.transitiontowns.org.

3. ... Incorporar idéias de outras organizações e iniciativas já existentes.

4. ... Organizar o lançamento do movimento. Isso pode ocorrer entre seis meses e um ano após o passo número um.

5. ... Formar subgrupos que vão olhar para suas regiões específicas e imaginar como a sociedade pode se tornar resiliente, ou seja, ser auto-suficiente e capaz de suportar choques externos, como a falta do petróleo.

6. ... Fazer eventos em espaços abertos. É importante que a sociedade perceba o movimento e queira fazer parte dele.

7. ... Realizar atividades que requerem ação. Em Totnes, por exemplo, foi decidido que as árvores frutíferas poderiam trazer benefícios para a cidade. Houve um mutirão para fazer o plantio de mudas de castanheiras.

8. ... Recuperar a hábitos perdidos como fazer concertos públicos, cozinhar, fazer jardinagem, cultivar hortas e andar de bicicleta.

9. ... Construir bom relacionamento com governo local.

10. ... Escutar os mais velhos. As pessoas que viveram entre 1930 e 1960, época em que o petróleo ainda não era tão importante, podem ter muito a ensinar.

11. ... Não manipular o processo de transição para essa ou aquela tendência. O papel do movimento não é levar todas as respostas, mas deixar que a população encontre meios para a transição. O movimento deve ser um grande catalisador de idéias.

12.... Criar um plano de ação para reduzir o consumo de energia da cidade. Cada grupo mostra o que foi decidido para cada área antes de colocá-las em prática.q
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Slow, outros sabores da comida

sábado, 12 de novembro de 2016



Carlo Petrini, o fundador do movimento internacional chamado Slow Food, sustenta que buscar uma alimentação prazerosa e em equilíbrio com a natureza é uma atitude política”. O problema –acrescenta- é que "a velha tradição militante ainda despreza a complexidade e beleza do ato de comer". No texto seguinte, você achará instigantes definições que Petrini deixou num artigo escrito por ele e publicado no Le Monde Diplomatique. Confira.


A gastronomia pertence ao domínio das ciências, da política e da cultura. Contrariamente ao que se acredita, ela pode constituir uma ferramenta política de afirmação das identidades culturais e um projeto virtuoso de confronto com a globalização em curso. Porque não há nada de mau em apreciar os prazeres da boca, base fundamental do saber gastronômico e elemento essencial da qualidade de vida. O movimento Slow Food  foi criado "pela defesa e pelo o direito ao prazer de alimentar-se".

O primeiro teórico deste tema, Jean-Antelme Brillat-Savarin (1755-1826), esclareceu que a gastronomia é o "conhecimento racional de tudo o que é relativo ao homem enquanto ser que se nutre". A partir desta simples definição, com um pequeno esforço intelectual, podemos compreender que a gastronomia reposiciona a nutrição no centro de interesse de todos e de tudo (magreza, obesidade, sono, juventude, envelhecimento, morte, etc).

Interessar-se por "tudo aquilo que é relativo ao homem enquanto ser que se nutre" exige conhecimentos nos domínios da antropologia, da sociologia, da economia, a química, a agricultura, a ecologia, a medicina, os saberes tradicionais e as tecnologias modernas. Tal corpus científico amplia enormemente o papel reservado aos gastrônomos. Ao mesmo tempo, aumenta o círculo de pessoas que deveriam estudá-lo para melhor governar, melhor confrontar os problemas atuais ou, ainda mais simplesmente, melhor compreender nosso mundo. Como defende Wendell Berry, o poeta-camponês do Kentucky, "comer é um ato agrícola".

Não é à toa que, segundo o relatório das Nações Unidas, Millenium Ecosystem Assestement, a maioria dos problemas ambientais são conseqüência dos métodos aberrantes de produção de alimentos. Infelizmente, a maioria das técnicas utilizadas não são sustentáveis. O desperdício é enorme, devido aos métodos intensivos e produtivistas, que consomem mais recursos do que produzem. Em alguns países desenvolvidos, os agricultores e operários das fábricas de alimentos representam apenas 2% da população ativa. Tudo foi industrializado. Fabrica-se em série uma alimentação sem sabor, padronizada, anti-ecológica e freqüentemente perigosa para a saúde pública (vários escândalos o provam, entre os quais o da “vaca louca”).

O futuro estará garantido apenas para homens e mulheres que produzam a comida por meio de técnicas compatíveis com os ritmos do planeta, revalorizando as técnicas antigas, respeitando a biodiversidade e as tradições gastronômicas estritamente ligadas à cultura e à economia de cada lugar do mundo.

A ciência gastronômica – com seu conhecimento, seu respeito pela qualidade de vida e as diferenças culturais – deveria voltar-se a domínios compatíveis com as novas exigências ecológicas. Colocar a ciência do prazer alimentar ao serviço de uma natureza preservada conduzirá o homem à produção da melhor alimentação possível. É uma aspiração tão legítima quanto natural. Mas não é levada em conta.

Criamos uma produção que não pesquisa mais o bom produto, mas o mais comercializável. As características organolépticas dos alimentos foram degradadas, a variedade e a biodiversidade foram reduzidas. Emporcalhamos tudo, matando o solo, poluindo o ar, recorrendo demais aos transportes poluentes. Em lugar de acabar com o drama da fome no mundo, instalamos um sistema global desrespeitoso do trabalho de milhares de pessoas e socialmente criminoso. Restabelecer os critérios de uma agricultura camponesa, a mais local possível, sazonal, natural, tradicional, constitui o começo de uma solução.

Os seres humanos certamente devem nutrir-se, mas não às custas do equilíbrio do planeta. O gastrônomo e o consumidor não podem mais ignorar o seguinte (mesmo que pareça engraçado): a escolha do que comemos orienta o mundo. O movimento Slow Food  baseou suas convicções na filosofia e abriu caminho para a construção de uma nova gastronomia.

O Slow Food propôs um programa de reeducação alimentar do gosto, com novos métodos, adaptados a todas as idades, na escola e no lazer. Esta nova concepção da gastronomia não é apenas uma idéia. Tornou-se um movimento social, que se associa ao protesto universal contra todas as formas de uniformização induzidas pela globalização e participa de todas as "reivindicações verdes" em prol de um meio-ambiente e uma ecologia preservados. Produtores, camponeses, artesãos e pescadores organizados em comunidades de alimentação que partilham dessas idéias estão trabalhando juntos e trocam conhecimentos por um futuro melhor.

Por trás de cada alimento tradicional, saboroso e ecologicamente sustentável, há séculos de saber, de inteligência e de criatividade. Por que correr o risco de apagar tudo isso em nome do produtivismo? Por que não multiplicar as comunidades de alimentação que saõ grupos de indivíduos que trabalham em conjunto para produzir comida boa, ecologicamente limpa e respeitosa da justiça social.

Sem "militantismo" ou apoio sindical ou partidário. Os trabalhadores, portadores de uma experiência de lutas quotidianas, cooperam para sobreviver, saõ os "intelectuais da terra" que dão um senso novo à produção de comida. Sua reivindicação é extremamente política uma vez que ela remete ao mesmo tempo à dignidade, ao direito à soberania alimentar, e à liberdade de fazer seu próprio trabalho.

Uma vasta rede de produtores, pesquisadores, comerciantes, chefs de cozinha, camponeses e consumidores deram à luz um grupo transversal formado por "gastrônomos de um novo tipo", vindos de grandes e pequenas comunidades de alimentação, que se situam à margem das organizações políticas tradicionais. Trata-se de uma democracia dos humildes, afirmando-se pela maneira pela qual se alimentam, e que também pensam que um novo desenvolvimento é possível.

Longe de continuar sendo uma prática elitista, a gastronomia pode tornar-se uma ciência mais democrática. Por que a possibilidade de nutrir-se com produtos de qualidade, o prazer de saborear uma boa comida e a defesa da soberania alimentar devem ser direitos de todos.
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