* Por Marcos de Aguiar Villas-Boas
As religiões, de um modo geral, ao longo da história têm
recaído, em regra, em pessoas doutrinadas que seguem messias, livros,
sacerdotes e dogmas. Cada um se afiniza com aquilo que vibra e as religiões
terminam servindo àqueles que estão nas suas faixas de vibração, mas elas são
desnecessárias para a ascensão espiritual, que tem a ver muito mais com um
processo de autoconhecimento e automelhoramento.
A religião que liga o indivíduo ao divino dentro de si não
trata de seguir algo, mas apenas de encontrar a si mesmo por meio de uma
constante busca. Religiosos tradicionais são seguidores de instituições,
messias e gurus, mas religiosos, na acepção real da palavra, são buscadores.
“Então, meu trabalho não é um movimento para criar uma religião, mas para criar religiosidade. Eu encaro a religiosidade como uma qualidade – não como uma parte de uma organização, mas como uma experiência interior do próprio ser” (Osho, Autobiografia de um místico espiritualmente incorreto).
Os verdadeiros mestres estão dentro de cada um, cada indivíduo é um mestre em potencial, de modo que só precisa despertá-lo. Os encarnados, que se sentem ainda tão dependentes de heróis, santos, messias, mestres etc., têm o mestre dentro de si, mas ainda não acreditam nisso.
A humanidade não precisa de mais mestres que se apresentam
como gurus dispostos a responder sobre todos os assuntos e a serem seguidos
pelos demais. O processo de transição planetária da Terra requer facilitadores
do autoconhecimento e do automelhoramento da humanidade, que colaborem para o
despertar do mestre dentro de cada indivíduo, com a libertação das ilusões e
limitações, muitas delas impostas pelo inconsciente coletivo e por atavismos
individuais.
É por isso que se fala tanto em despertar, expandir, ampliar a consciência como o objetivo mais importante da encarnação. Daí pode se entender até a utilidade do sofrimento, que, por linhas tortas, muitas vezes consegue tirar o indivíduo daquela estagnação e lhe levar a perceber algo novo.
Carl Jung já dizia que é preciso acordar o mestre em cada um
por meio da aproximação entre o ego (a personalidade do encarnado) e o seu Eu
superior (o espírito). É como ir continuamente desvelando ilusões e limitações
até que sobre apenas a centelha divina, o puro amor incondicional.
Pode-se falar em diferentes níveis de consciência pelos
quais vamos passando à medida em que nos conhecemos melhor e em que estamos
mais em paz conosco e com os outros, compreendendo nossas peculiaridades e as
dos demais. Enquanto estamos em um nível de consciência, é muito difícil
compreender alguns aspectos mais afetos aos níveis conscienciais superiores.
Daí porque muitas pessoas não se entendem umas com as
outras. Em diferentes níveis de consciência, de capacidade de compreensão da
realidade, é muito mais difícil que haja concordância, e não adianta um tentar
ficar impondo sua verdade ao outro, pois não se deve exigir do outro aquilo que
ele não pode dar. É falta de inteligência e, sobretudo, de sabedoria querer
tirar leite de pedra, expressão que apenas faz sentido na linguagem figurada, e
não na experiência.
Os seres humanos, e isso é muito vivo nas religiões, tentam
mudar uns as ações dos outros, mas o que deveria ser feito, de forma cautelosa
e amorosa, é tentar despertar a consciência uns dos outros. Para que haja
mudança de pensamentos, sentimentos, emoções e ações, é preciso que primeiro
haja mais consciência, mais luz, mais percepção.
“Para mim foi uma surpresa descobrir que quando você se
torna silencioso, quando se torna consciente e mais alerta, suas ações começam
a mudar – e não vice versa. Você pode mudar suas ações, mas isso não o tornará
mais consciente. Quando você se tornar mais consciente, é que suas ações vão
mudar...Isso é absolutamente simples e científico. Você estava fazendo algo
estúpido; à medida que você se tornar mais alerta e mais consciente, não poderá
mais fazê-lo” (Osho, Autobiografia de um místico espiritualmente incorreto).
Osho acerta em cheio na importância da meditação para o
despertar da consciência e, diferentemente da maioria, ensina que meditar não é
simplesmente aplicar algumas técnicas de respiração e de limpar a mente. Para
ele, meditar é estar consciente e isso pode ser feito de forma ativa,
observando a sua volta sem ficar verbalizando, ou seja, é sentir a realidade
sem deixar a mente ser barulhenta, ficar trazendo inúmeros pensamentos. A
verbalização mental é, então, ligada e desligada durante o dia. Apenas é usada
quando necessário para se comunicar, por exemplo.
Na visão de meditação ativa de Osho, a pessoa pode estar
nesse estado durante todo o dia, pois ela não depende de um local sem barulho,
nem de mantras. O que amplia a consciência, segundo ele, é praticar o estar
consciente, alerta, com a mente silenciosa, o máximo de tempo, e isso faz muito
sentido.
Não estamos a dizer que as técnicas de meditação não ajudam.
O próprio Osho criou algumas específicas para os ocidentais. Há vasta
comprovação científica de que elas alteram o cérebro para melhor e provocam
inúmeros benefícios às pessoas, mas, como concluíram Daniel Goleman e Richard
J. Davidson no livro A Ciência da Meditação, há diversos outros aspectos
importantes a serem integrados à prática meditativa para que a pessoa sinta
resultados mais palpáveis.
Osho também acerta ao afirmar que é a consciência se
despertando o que vai alterando as ações, não sendo possível exigir que alguém
mude se ela continua vendo as coisas da mesma forma. Isso reforça a ideia de
que impor nunca é a solução. É preciso utilizar de artifícios argumentativos e
práticos, como a meditação e terapias, para que a pessoa desperte daquele sono
de consciência no qual se encontra.
“Quando a consciência torna-se assentada, todos os padrões
de vida mudam. O que as religiões chamam de pecado desaparece, e o que chamam
de virtude automaticamente flui de seu ser, de suas ações. Mas as religiões têm
feito exatamente o contrário, tentando mudar primeiro os atos. É como se as
pessoas estivessem numa casa escura, tropeçando nos móveis e nos objetos, e
dissessem a elas que não terão luz a menos que parem de tropeçar. O que estou
dizendo é: traga a luz e os tropeços desaparecerão” (Osho, Autobiografia de um
místico espiritualmente incorreto).
Não se deve achar que a meditação irá necessariamente tornar
a pessoa feliz de uma hora para a outra e para sempre, apesar de que, se já
estiver pronta, isso pode acontecer. A meditação, os estudos sem limitações
religiosas, as terapias para autoconhecimento, a busca por compreender tudo e
todos com amor incondicional são passos que tendem a levar ao despertar da
consciência, mas há muitos degraus.
Não é incomum olharmos para o ano anterior e percebermos que
não entendíamos certas coisas as quais estão mais claras agora ou que
cometíamos erros que não cometemos mais. Isso é uma ascensão na escada da
consciência, um passo no despertar. A cada momento em que reconhecemos mais dos
nossos equívocos, lança-se luz sobre as sombras e, a partir dali, fica muito
mais fácil de se dominar e de até usar as sombras em nosso favor.
Se perceber, aceitar e reconhecer as nossas ilusões e
limitações, que é o mesmo que lançar luz sobre as nossas sombras, é o caminho
para estar consciente do que se faz de negativo e transmutar isso em positivo,
as pessoas precisam parar de se auto-sabotar, de jogar para debaixo do tapete
aquilo que incomoda, de se ferir quando alguém lhe mostrar um erro.
Quanto mais à luz estiverem as sombras, mais iluminadas
estarão e mais fácil será lidar com elas. É por isso que é útil fazer boas
terapias (psicanálise, thetahealing, consultas com guias espirituais etc.) e
lançar luz sobre as sombras a partir de um terceiro, assim como é útil procurar
sozinho a erupção das sombras, trazê-las à luz, por meio de medicinas de cura
xamânicas, por exemplo.
Quanto mais se segue dogmas, quanto menos se questiona,
quanto mais alguém se julga perfeito ou próximo da perfeição, quanto mais
entende ter sido salvo por alguém ou por uma religião, mais ele ou ela irá
deixar de buscar o autoconhecimento, o automelhoramento e um conhecimento mais
diverso, mais amplo.
O momento é de encontrarmos o mestre em nós mesmos, e não de
continuarmos seguindo. Não é
mais tempo de seguir gurus que estão prontos para dizer o que os outros devem
pensar, sentir e fazer a respeito de tudo, mesmo quando não têm conhecimento ou
não viveram aquilo na prática.
A religião tradicional torna as pessoas seguidoras, fieis,
adoradoras, mas a religiosidade, a espiritualidade, torna-as buscadoras,
questionadoras, pesquisadoras, sensitivas, conscientes. q
*Marcos de Aguiar Villas-Bôas é terapeuta holístico,
espiritualista universalista, reikiano, praticante de meditação e amante do todo e de todos. Busca despertar a consciência, o mestre
dentro de si, e ajudar os outros a fazerem o mesmo.
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